Icarus, Contemplation & Dream (english subtitles) - Ícaro, Contemplação & Sonho.

Icarus, Contemplation & Dream is a documentary film where Michelangelo explains how he discovered himself trapped inside Eurico Poggi's mind. The remembering of Vittoria Colonna's death reveals the link between the two minds. The developments search for a way out of the emotional turmoil.

Icaro, Contemplação e Sonho é um documentário onde Michelangelo explica como ele se descobriu preso na mente de Eurico Poggi. A lembrança da morte de Vittoria Colonna revela a ligação que existe entre as duas mentes. A saída da tormenta emocional aconteceu através de uma pesquisa na arte.

domingo, 17 de julho de 2011

1988-90 (Footage 10 from Icarus, Contemplation & Dream - english subtitles)

1988-90 (Footage 10 from Icarus, Contemplation & Dream - english subtitles) from MichelAngelo BuonaRoti on Vimeo.


Trecho do livro Ícaro, Contemplação & Sonho:
…e trocar de roupa, a empregada, Joaninha, me confirmou tudo o que deduzi da cena no jantar de meu aniversário. Ela relatou as conversas de meus pais, mas me garantiu que meu pai tinha se recusado terminantemente a cortar a minha semanada, apesar da insistência diária de minha mãe para que fizesse isso.

1988 — O FORMIGA
E assim começou o ano de 1988: eu contando o dinheiro da passagem e do lanche, sem um único amigo ou qualquer relacionamento real, ignorando o “Velho Amigo”, indo e voltando do Méier de ônibus. Perambulava pelas ruas do Rio de madrugada, às vezes sem um tostão no bolso, procurando conversa com alguma garota que me atraísse.
Frequentava todas as portas de inferninhos imagináveis e, quando economizava algum, realizava o sonho de entrar, o que já melhorava o status diante das meninas. Com o dia amanhecendo, podia acontecer o impossível.
Foi exatamente nesse ponto que comecei a viver como o “Formiga”, o tamanduá-bandeira descrito no sonho do Henrique, em 1983. Apenas para lembrar, o significado simbólico da imagem do “Formiga” é descrever “aquele que se alimenta de pequenos femininos”, ou “de pequenos casos amorosos”, ou “de pequenos contatos com o sexo feminino”. Mas eu ainda estava longe de começar a entender a exata natureza dos sonhos de 1983 com a Mônica real.
Aos poucos, fui aprendendo a andar sozinho na noite do Rio de Janeiro. Não havia escolha mesmo. Difícil dizer o que era mais perigoso. Arma de bandido na cara, em alguma viagem de ônibus, era normal. Mas cheguei a tomar tapa na cara e soco no estômago ao ser revistado pela Polícia Militar. Depois, passei a observar melhor as pessoas ao meu redor e conseguia saltar dos ônibus antes dos assaltos. Quanto aos policiais, esses eram mais difíceis de evitar e também fui assaltado por eles.
Enquanto isso, no ateliê, decidi que só retomaria o trabalho na estrutura de madeira depois que tivesse mapeado geometricamente todo o modelo de gesso do Ícaro. E passei a dividir o meu tempo entre a torturante rotina com compassos e escalas e uma metódica análise geométrica das informações que encontrava. Todas as medidas eram cuidadosamente anotadas em desenhos técnicos visando o futuro trabalho de ampliação do Ícaro na estrutura de madeira.
Nessa época, 1988, comecei um trabalho de escultura que batizei de Apolo. A minha pretensão com o Apolo era a criação de uma imagem emblemática da minha arte. Queria definir um corpo no espaço cujo movimento fosse um enunciado geral das possibilidades que eu já vinha desenvolvendo havia algum tempo. Se o sentido geométrico do Ícaro buscava um diálogo visual com o Escravo Rebelde, o Apolo deveria ser uma síntese da minha identidade artística atual, absolutamente livre de qualquer referência do passado em termos de movimento do corpo no espaço.
Eu procurava esboçar figuras o máximo possível e anotava tudo o que me passava pela cabeça sobre a arte que fazia. Nas idas e vindas de ônibus para o Méier, trânsito sempre engarrafado, nunca deixava de andar com pequenos blocos de desenho. Assim, um mundo de possibilidades de corpos no espaço foi sendo descoberto. Esse mundo estava a um passo de ser todo encaixado numa grande cena da Ressurreição.
Esses anos foram os mais vazios de minha vida. A interrupção do trabalho na estrutura de madeira, a falta de perspectiva em relação a arte, a verificação da minha identidade e o desgaste da solidão trouxeram a dúvida e o desequilíbrio emocional. Sem o clima de “arrebatamento divino” dos dois primeiros anos, passei a agredir a mim mesmo e tudo à minha volta. Chegava ao ateliê, ou ao meu quarto, e começava a quebrar tudo.